Kinito o palhaço
setubalense que encantou Portugal
Se
há homens com o dom de nos transmitirem momentos de boa disposição e que nos
fazem rir, são seguramente aqueles que abraçaram a bonita e talentosa arte de
palhaço.
Durante
60 anos esteve entre nós Joaquim da Purificação dos Santos, um homem nascido em
Setúbal em 6 de março de 1922 e que uma insuficiência renal seria o motivo para
nos deixar no dia 21 de novembro de 1982.
Serão
certamente poucos os setubalenses que identificariam o artista pelo seu nome de
batismo, porém se alguém perguntar pelo palhaço KINITO aí sim, o sorriso rasgar-se-á
e a memória será avivada por muitos que o viram atuar e por outros que dele apenas
ouviram falar.
Este
artista setubalense foi considerado um dos melhores palhaços que Portugal
conheceu, a provar esta afirmação está o facto inédito de em 1959 no Coliseu
dos Recreios o público ter estado 15 minutos de pé a bater-lhe palmas.
Kinito
vinha de uma família numerosa e de poucos recursos e como tal cedo teve de
começar a ajudar em casa e fê-lo como acabador de calçado. Quando faleceu,
depois de alegrar tanta gente com a arte que tão bem dominava, deixava também
seis filhos.
O
seu interesse pelas atividades circenses começou quando ainda era criança e observava
os mais pequenos gestos do grupo de saltimbancos que de vez em quando passavam
lá pela rua onde morava.
Com
aqueles artistas aprendeu alguma coisa e aos 10 anos já o pequeno Joaquim
atuava na rua dando corpo à arte que viria a abraçar e que aos 19 anos já lhe
granjeara a fama suficiente para ser convidado a atuar em romarias nem que
fosse só para cantar, a sua grande paixão e outro dos seus talentos.
Atendendo
a que circo era mesmo o que mais gostava tratava de inventar constantemente as
figuras que melhor pudessem fazer rir o público, no entanto o talentoso jovem
também praticava desporto e chegou a jogar andebol num clube de Almada, onde
foi internacional.
Em
1940, no Bombarral, estreou-se como animador de pista e dez anos depois criava
o seu próprio grupo formando os seus quadros conforme aceitação do público.
Curiosamente
entrou no circo como trapezista e não como palhaço, tendo atuado quase sempre
ao lado do Emiliano, o palhaço rico.
Embora
fosse em Setúbal, na Feira de Santiago o local que mais gostava de atuar teve
oportunidade de se apresentar ao público de Espanha, França, Bélgica, Áustria,
Inglaterra, Holanda, Itália, Alemanha, Dinamarca, Angola e Moçambique.
Kinito,
tocava vários instrumentos e cantava, sobretudo canções latinas e conseguia
fazer a proeza de caminhar completamente desengonçado, como se fosse um boneco
articulado, mais parecendo que as suas pernas eram de borracha.
Naturalmente
o artista evoluiria para o empresário do ramo e este talentoso setubalense
acabaria por montar o Circo Califórnia, alugar o Luftman, dirigir o Kini, comprar
o Alegria e o circo da sua vida, o Texas.
Em
1982 a sua carreira circense deste homem simples e simpático que preparava com
muito cuidado as suas personagens e que gostava de fazer rir o público terminaria
com uma atuação no Circo Chen depois de 4º anos de carreira como palhaço, um
dos melhores que Portugal já conheceu.
Em
1989, na tenda de circo montada no Largo José Afonso, cerca de 7.000 crianças
assistiram ao espetáculo de homenagem ao palhaço Kinito, um evento promovido
por um grupo de setubalenses com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal e do
Circulo Cultural de Setúbal. Tratou-se de um dos raros acontecimentos em
Setúbal que não dividiu ninguém.
Rui
Canas Gaspar
2015-julho-25
www.troineiro.blogspot.com
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