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sábado, 25 de julho de 2015

Kinito o palhaço setubalense que encantou Portugal

Se há homens com o dom de nos transmitirem momentos de boa disposição e que nos fazem rir, são seguramente aqueles que abraçaram a bonita e talentosa arte de palhaço.

Durante 60 anos esteve entre nós Joaquim da Purificação dos Santos, um homem nascido em Setúbal em 6 de março de 1922 e que uma insuficiência renal seria o motivo para nos deixar no dia 21 de novembro de 1982.

Serão certamente poucos os setubalenses que identificariam o artista pelo seu nome de batismo, porém se alguém perguntar pelo palhaço KINITO aí sim, o sorriso rasgar-se-á e a memória será avivada por muitos que o viram atuar e por outros que dele apenas ouviram falar.

Este artista setubalense foi considerado um dos melhores palhaços que Portugal conheceu, a provar esta afirmação está o facto inédito de em 1959 no Coliseu dos Recreios o público ter estado 15 minutos de pé a bater-lhe palmas.

Kinito vinha de uma família numerosa e de poucos recursos e como tal cedo teve de começar a ajudar em casa e fê-lo como acabador de calçado. Quando faleceu, depois de alegrar tanta gente com a arte que tão bem dominava, deixava também seis filhos.

O seu interesse pelas atividades circenses começou quando ainda era criança e observava os mais pequenos gestos do grupo de saltimbancos que de vez em quando passavam lá pela rua onde morava.

Com aqueles artistas aprendeu alguma coisa e aos 10 anos já o pequeno Joaquim atuava na rua dando corpo à arte que viria a abraçar e que aos 19 anos já lhe granjeara a fama suficiente para ser convidado a atuar em romarias nem que fosse só para cantar, a sua grande paixão e outro dos seus talentos.

Atendendo a que circo era mesmo o que mais gostava tratava de inventar constantemente as figuras que melhor pudessem fazer rir o público, no entanto o talentoso jovem também praticava desporto e chegou a jogar andebol num clube de Almada, onde foi internacional.

Em 1940, no Bombarral, estreou-se como animador de pista e dez anos depois criava o seu próprio grupo formando os seus quadros conforme aceitação do público.

Curiosamente entrou no circo como trapezista e não como palhaço, tendo atuado quase sempre ao lado do Emiliano, o palhaço rico.

Embora fosse em Setúbal, na Feira de Santiago o local que mais gostava de atuar teve oportunidade de se apresentar ao público de Espanha, França, Bélgica, Áustria, Inglaterra, Holanda, Itália, Alemanha, Dinamarca, Angola e Moçambique.

Kinito, tocava vários instrumentos e cantava, sobretudo canções latinas e conseguia fazer a proeza de caminhar completamente desengonçado, como se fosse um boneco articulado, mais parecendo que as suas pernas eram de borracha.

Naturalmente o artista evoluiria para o empresário do ramo e este talentoso setubalense acabaria por montar o Circo Califórnia, alugar o Luftman, dirigir o Kini, comprar o Alegria e o circo da sua vida, o Texas.

Em 1982 a sua carreira circense deste homem simples e simpático que preparava com muito cuidado as suas personagens e que gostava de fazer rir o público terminaria com uma atuação no Circo Chen depois de 4º anos de carreira como palhaço, um dos melhores que Portugal já conheceu.

Em 1989, na tenda de circo montada no Largo José Afonso, cerca de 7.000 crianças assistiram ao espetáculo de homenagem ao palhaço Kinito, um evento promovido por um grupo de setubalenses com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal e do Circulo Cultural de Setúbal. Tratou-se de um dos raros acontecimentos em Setúbal que não dividiu ninguém.

Rui Canas Gaspar
2015-julho-25

www.troineiro.blogspot.com

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