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domingo, 26 de julho de 2015

Quem teve medo do “Almeida bruxo” ?

Muito pouco ficou para a posteridade, a não ser algumas memórias, sobre aquele homem alto, magro, normalmente bem vestido e de gravata colocada, que caminhava muito direito, com os braços pendidos ao longo do corpo.

O seu apelido seria Almeida, e era conhecido em Setúbal na segunda metade do século XX como “Almeida bruxo”.

A popularidade deste personagem levou-o a ser alvo de atenção do famoso fotógrafo setubalense Américo Ribeiro, autor da foto que aqui se apresenta.

Lembro-me quando este homem, que residia na Freguesia de Santa Maria da Graça, na Rua Arronches Junqueiro, aparecia pelas bandas do Bairro de Troino a rapaziada logo tratava de correr atrás dele num misto de curiosidade e de receio, não fosse ele fazer alguma bruxaria.

Quando chegava à Rua das Oliveiras a rapaziada desatava a gritar: “É Almeida bruxo!” E mal o homem se voltava, todos tratavam de fugir, como um bando de pardais, escondendo-se na Rua do Ligeiro, porque mais valia prevenir que remediar e só o seu olhar já podia augurar que nada de bom pudesse acontecer.

Vendo as coisas a esta distância, e tirando o facto de ao final do dia o nosso homem tentar manter o equilíbrio nas suas longas e magras pernas, devido aos efeitos dos vapores do álcool que lhe subiam à cabeça. O que não era de admirar por naquela época as tabernas setubalenses serem mais que muitas, “Almeida bruxo” se vivesse hoje seria considerado por muitos como um filósofo ou um observador da vida quotidiana.

Conta-se que o segredo dos seus “dotes de adivinho” residia no facto de receber em sua casa os clientes. Porém, não seria ele a fazer o primeiro atendimento, ou triagem, mas sim a esposa que habilmente encaminhava a conversa para o motivo da visita.

O “vidente” escutaria o diálogo numa outra dependência da casa e quando estava senhor da situação aparecia, como se tivesse acabado de chegar a casa, dispondo-se então a atender o seu cliente.

Depois, era usar as próprias informações disponibilizadas por quem o procurara e fazer ouvir aquilo que mais se pudesse adequar à situação do pobre paciente.
A forma como falava, calma e solene, a sua postura e o seu aspeto físico tratariam só por si de fazer o resto.

Rui Canas Gaspar
2015-julho-26

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