Quem teve medo do “Almeida bruxo” ?
Muito pouco ficou para a posteridade, a não ser algumas memórias, sobre aquele
homem alto, magro, normalmente bem vestido e de gravata colocada, que caminhava
muito direito, com os braços pendidos ao longo do corpo.
O
seu apelido seria Almeida, e era conhecido em Setúbal na segunda metade do
século XX como “Almeida bruxo”.
A
popularidade deste personagem levou-o a ser alvo de atenção do famoso fotógrafo
setubalense Américo Ribeiro, autor da foto que aqui se apresenta.
Lembro-me
quando este homem, que residia na Freguesia de Santa Maria da Graça, na Rua
Arronches Junqueiro, aparecia pelas bandas do Bairro de Troino a rapaziada logo
tratava de correr atrás dele num misto de curiosidade e de receio, não fosse
ele fazer alguma bruxaria.
Quando
chegava à Rua das Oliveiras a rapaziada desatava a gritar: “É Almeida bruxo!” E
mal o homem se voltava, todos tratavam de fugir, como um bando de pardais, escondendo-se
na Rua do Ligeiro, porque mais valia prevenir que remediar e só o seu olhar já
podia augurar que nada de bom pudesse acontecer.
Vendo
as coisas a esta distância, e tirando o facto de ao final do dia o nosso homem
tentar manter o equilíbrio nas suas longas e magras pernas, devido aos efeitos
dos vapores do álcool que lhe subiam à cabeça. O que não era de admirar por naquela
época as tabernas setubalenses serem mais que muitas, “Almeida bruxo” se
vivesse hoje seria considerado por muitos como um filósofo ou um observador da
vida quotidiana.
Conta-se
que o segredo dos seus “dotes de adivinho” residia no facto de receber em sua
casa os clientes. Porém, não seria ele a fazer o primeiro atendimento, ou
triagem, mas sim a esposa que habilmente encaminhava a conversa para o motivo
da visita.
O
“vidente” escutaria o diálogo numa outra dependência da casa e quando estava
senhor da situação aparecia, como se tivesse acabado de chegar a casa, dispondo-se
então a atender o seu cliente.
Depois,
era usar as próprias informações disponibilizadas por quem o procurara e fazer
ouvir aquilo que mais se pudesse adequar à situação do pobre paciente.
A
forma como falava, calma e solene, a sua postura e o seu aspeto físico
tratariam só por si de fazer o resto.
Rui
Canas Gaspar
2015-julho-26
www.troineiro.blogspot.com
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