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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Francisco Finura o operário especializado em trabalhos não especializados

No ano em que os Estados Unidos foram confrontados com o crash da Bolsa de Nova Iorque, dando início à grande depressão económica, que tão nefastas consequências originaram em praticamente todo o mundo, era comum as crianças portuguesas começarem bem cedo a familiarizar-se com o mundo do trabalho e, um rapazinho setubalense, com os seus nove anos de idade, não foi exceção.

Foi numa oficina de bicicletas que ele iniciou a atividade laboral e, foi aí também, que viria a tornar-se um afinador dessas populares máquinas. Esta seria a primeira profissão de entre muitas outras que desempenharia ao longo da sua vida.

Francisco Augusto da Silva Finura nascera no bairro de Troino, em Setúbal, no primaveril dia 13 de abril de 1929 e, devido à sua persistência, à sua postura perante a vida e aos seus invulgares e multifacetados talentos havia de ficar conhecido por boa parte dos seus conterrâneos que com ele se cruzaram no decurso do século XX e primeira década do XXI.

Durante dezenas de anos os setubalenses, particularmente os residentes nos Bairros de Troino e Fonte Nova, habituaram-se a conviver com este invulgar conterrâneo conhecido por “Finuras”, entre o povo da sua terra.

De cachimbo preso ao canto da boca e barba à “Popeye”, vestido com o fato-macaco azul, donde sobressaía do bolso superior um vistoso e impecável lenço branco era assim que geralmente se apresentava em público.

Não é pois de admirar que a sua pose e popularidade tivesse despertado a atenção de famosos e talentosos fotógrafos e pintores setubalenses, nomeadamente Américo Ribeiro, Baptista, Maurício de Abreu e Rogério Chora, que tão bem captaram a sua imagem, a qual ficaria gravada para a posteridade graças a estes artistas.

Francisco Finura, geralmente fazia-se transportar pelas ruas de Setúbal numa singular bicicleta, fabricada por si, afirmando ser este o modelo mais adequado, porquanto considerava que “o bom ciclista deve pedalar com a perna esticada”. 

O velocípede tinha um guiador alto, carreto preso, travão sob o assento, permitindo por isso fazer demonstrações de perícia sobre as duas rodas.

E ela era de tal forma cobiçada que, certo dia, alguém furtou a bicicleta e nunca mais a mesma apareceu. Francisco Finura tratou de resolver o problema com a celeridade que o assunto merecia e, colocando mãos ao trabalho, tratou de a substituiu por outra idêntica, devidamente equipada com a característica buzina e a roda traseira maior que a frontal.

De tronco direito, peito saliente, compleição atlética, com pronuncia onde o erre era bem vincado, a forma de falar característica dos setubalenses da zona de Troino, “Finuras” não passava despercebido onde quer que estivesse e, entre a rapaziada dos bairros de Troino e Fonte Nova, a sua figura exercia particular atração e admiração não só devido à distinta pose mas sobretudo às suas diversas habilidades, ficando conhecido como o operário especializado em trabalhos não especializados, como ele próprio se autointitulou.

Rui Canas Gaspar
2015-julho-22

www.troineiro.blogspot.com

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