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sexta-feira, 2 de maio de 2014

A cidade do rio azul não é a República Dominicana

Hoje fui comprar produtos frescos ao bonito e renovado Mercado do Livramento.

Mal entrei naquele local o agradável aroma dá-me vontade de por lá ficar mais tempo do que o necessário para fazer as compras.

Pelo forma de falar dos utilizadores daquele espaço reconheço a maioria das pessoas como setubalenses, embora o sotaque brasileiro e o crioulo cabo-verdiano seja frequente e assim identifico outro tipo de moradores que a cidade sadina tão bem acolheu.

É também curioso verificar a quantidade de turistas que por ali são vistos a fotografar não só as belas e enormes estátuas oferecidas à cidade pela Fundação Buehler-Brockaus, alusivas às profissões daquele estabelecimento, mas também apontando as objetivas das suas máquinas às bancas de verdura, frutas ou do saboroso e diversificado peixe fresco.

A vendedora da banca onde estou a comprar os vegetais mostra-se admirada com a quantidade de gente que hoje, dia seguinte ao primeiro de maio, veio fazer compras e diz-me: - Está cá muita gente de fora!…

Seguidamente dirijo-me ao supermercado Pingo Doce, ao lado do Mercado do Livramento, para comprar outro tipo de produtos que não se encontram à venda no mercado de frescos. Longas filas em todas as caixas e a operadora por quem sou atendido confidencia-me que hoje está muita gente de fora, confirmando assim o que já ouvira no mercado.

Não sei de onde apareceram tantos forasteiros, mas lá que eles estão cá isso estão. Venham eles nas autocaravanas que este ano “descobriram” Setúbal, estejam em casas no outro lado do rio, em Troia, apenas de passagem, em casa de familiares ou amigos, não faço ideia…

Ontem, primeiro de maio, na minha volta pelo Parque Urbano de Albarquel, a determinada parte do percurso o mesmo encontrava-se obstruído por um grupo de oito adultos, homens e mulheres, que caminhavam lentamente. Como caminhava logo atrás tive oportunidade de naturalmente escutar parte da sua conversa.

Pela pronúncia notava-se que era pessoal do Norte, das bandas do Porto, Gaia ou Matozinhos. Tudo admiravam e comentavam elogiosamente, desde os lindos tufos de arbustos floridos, aos espaços relvados, às zonas de aparelhos de ginástica, ao rio azul, ao “calçadão” e mostraram-se agradavelmente surpreendidos com o espaço destinado à zona de merendas, com os seus protetores de sol feitos em matéria natural como usado nos países tropicais.

E foi aqui que uma das senhoras, visivelmente agradada com tudo o que via, desabafou: - Parece que estamos na Republica Dominicana, e isto não se fica nada atrás!...

Bem, cada um gosta do que gosta, as afirmações valem o que valem, mas não há duvida que Setúbal está como nunca antes se viu. Muito mais agradável e com muito mais pontos de interesse, sendo o expoente máximo a devolução do seu rio azul ao usufruto da cidade.

De facto, muito ainda há por fazer, mas “Roma e Pavia não se fizeram num dia” e, goste-se ou não, nestes últimos anos a cidade sadina mudou imenso.

Nós que cá estamos podemos não nos aperceber, mas aqueles que nos visitam, ou aqueles que tendo por cá nascido ou residido retornem para nos visitar, passado meia dúzia de anos, são dessa opinião.

Esta é uma cidade com vida própria, com um amplo tecido industrial, é uma cidade marítima mas que já não vive da pesca, o turismo é um importante polo a explorar a par de outros pontos de interesse, uma cidade de enorme potencial.

Saibam os setubalenses e seus governantes, nascidos ou não aqui, reconhecer e acarinhar a cidade que temos, desenvolvendo as potencialidades que estão ao nosso alcance.

É meu desejo e minha esperança que um dia ainda possa ver a minha terra não como a Republica Dominicana, mas sim igual a si mesma, a cidade do rio azul, uma potência turística internacional por mérito próprio.

Rui Canas Gaspar

2014-maio-02

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